Exposição: Luis Guimarães | O Ferramental da Invenção – Arranjos Metálicos
A História da Arte corre paralela à história das invenções e dos adventos que ensejam o avanço de tecnologias diversas. É sabido que a descoberta e o progresso da mineração – junto ao consequente domínio das técnicas de forja do bronze e do ferro – tornaram possíveis a fabricação de ferramentas fundamentais ao início de novas eras na história da Humanidade.
Presente em todos os quadrantes do Planeta, a História da Arte também beneficiou-se desses adventos e, desde muito tempo, os instrumentos que tornaram a vida possível – tanto para
os povos coletores-caçadores nômades, quanto para os agricultores sedentarizados – também ganharam versões que permitiam a esses grupos a prática, por exemplo, da escultura entalhada na pedra ou na madeira.
Seria possível, portanto, narrar uma História da Arte que também fosse uma história das ferramentas que tornaram viáveis a realização da Arte – ou de parte significativa dela – criando, assim, uma História do Trabalho.
Desse modo, não é estranho que, contemporaneamente, um artista como Luis Guimarães, que tem em sua formação profissional uma importante passagem pelas salas e oficinas do Serviço Nacional da Indústria (SENAI), desenvolva o projeto artístico exibido agora na Casa de Metal.
Através de sua obra é possível considerar algumas questões que são caras à Arte que se pratica no Ocidente desde o início do século XX. A ressignificação de objetos ordinários, de uso cotidiano, já vinha sendo proposta desde Marcel Duchamp (1887-1968), artista francês que introduziu o conceito do “ready-made”, ou, “objeto-pronto”, em livre tradução. Trabalhos como a “Fonte”, de 1917, são hoje, incontestavelmente, centrais na História da Arte Ocidental – porém, no momento de sua introdução, foram bastante contestadas.
Em sua investigação do espaço fica evidente que Luis Guimarães dá especial atenção ao desenho, conhecimento do qual utiliza-se para projetar ferramentas e objetos – destacando-se, assim,
em vários de seus arranjos, a qualidade gráfica de seu trabalho.
Não é equivocado afirmar que a sensibilidade aplicada ao desenho técnico que Guimarães outrora empregava no projeto de ferramentas e utensílios, está também engajada no momento de criação e desenvolvimento de seus projetos artísticos. É dessa junção de universos que surge a vitalidade de seu trabalho: as soldas, a pátina do tempo (traduzida, às vezes, em ferrugem), os meios de fixação das partes – tudo isso está evidenciado em seu processo.
Luis Guimarães não esconde as marcas que tornam possíveis a realização de suas obras e,com essa atitude, também valoriza e,consequentemente, exalta o trabalho em geral – o bom trabalho – que não aliena, mas, pelo contrário, edifica e liberta…